Baixo rio Branco - Descaso, exploração e conflitos por território podem causar abandono das comunidades
Uma equipe de pesquisadores e profissionais de comunicação esteve na expedição organizada pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), composta por professores da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Universidade Federal do Ceará (UFC) e apoio da Universidade de São Paulo (USP), desenvolvendo atividades ligadas ao projeto aprovado junto ao Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia (PROCAD), vinculado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com o apoio da Reitoria da UFRR.
De acordo com o coordenador geral do projeto, professor Antonio Veras, o objetivo é analisar o ordenamento e gestão territorial, assim como os aspectos socioambientais e socioeconômicos das comunidades ribeirinhas do Baixo Rio Branco.
Além da aplicação de métodos científicos, observações, anotações e entrevistas, a pesquisa utilizou tecnologias e ferramentas para produção de cartografias na identificação de cosmografias, assim como registro fotográfico e audiovisual. Uma vivência fluvial que promete render bons resultados, considerando o desconhecimento que o próprio estado de Roraima e o Brasil têm das realidades destes povos ribeirinhos do ‘sul do extremo norte brasileiro’, mas que a partir deste projeto ganham visibilidade midiática e acadêmica.
Após percorrer cerca de 140 quilômetros de Boa Vista à Caracaraí (RR), a expedição navegou por mais de mil quilômetros, navegando pelos rios Xeurini, Jufari e uma série de canais e furos, com uma parada na vila de Moura (AM), subindo em seguida pelo rio Jauaperi, onde ficam localizadas várias comunidades ribeirinhas, vinculadas ao município de Caracaraí (RR).
A bacia hidrográfica do estado de Roraima pertence à bacia amazônica, com 204.640 km2 de extensão, incluindo os rios Uraricoera, Catrimani, Mucajai, Tacutu e Anauá. Deste quantitativo, o Rio Branco possui 45.530 km2. Nesta região, não há estradas.
O acesso às comunidades Baixo Rio Branco que abrange os municípios de Rorainópolis e Caracaraí é feito por via fluvial. A exceção ocorre em Santa Maria do Boiaçu, que também pode ser acessada por meio aéreo. Nas demais, o rio é a única forma de deslocamento entre as localidades. Uma comunicação feita pelas águas.
O coordenador regional do PROCAD, professor e geógrafo, Antonio Tolrino Veras (UFRR), que também coordenou a primeira expedição ao Baixo rio Branco em outubro do ano passado (http://ufrr.br/ultimas-noticias/4911-baixo-rio-branco-visita-de-campo-da-ufrr-identifica-comunidades-abandonadas-e-propoe-projetos-de-desenvolvimento-local), explica que os pesquisadores estão trabalhando com o ordenamento territorial e a identificação das potencialidades e vulnerabilidades das comunidades. “As comunidades analisadas têm especificidades comerciais, sociais, ambientais, culturais e religiosas. Vamos traçar uma percepção destas comunidades em relatórios técnicos e sugerir ações que possam em um futuro próximo subsidiar políticas públicas”, Os produtos gerados a partir da percepção destas comunidades serão apresentados em relatórios técnicos, de modo a sugerir ações que possam em um futuro próximo subsidiar políticas públicas, afirmou.
Professor Veras explica que tratar do ordenamento territorial é desvelar o uso, apropriação e significação destes territórios. “Este ordenamento tem que considerar, na essência, as relações sociais destas comunidades no espaço que elas ocupam. Ao longo da expedição verificou-se que muitas comunidades estão em conflitos em relação ao uso do território”, alertou o coordenador, que é doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP).
Ele diz que, muitas vezes, a apropriação do território se dá de fora para dentro. “Na verdade, esse uso e apropriação têm que ocorrer de dentro para fora. A comunidade é quem tem que ter uma consciência, uma organização do seu território. Precisa melhor aproveitar seu espaço do ponto de vista de sua gestão”, pontuou.
Segundo Veras, as comunidades podem gerir melhor seus espaços para não serem penalizadas ou exploradas e, na pior das hipóteses, não desaparecerem, o que seria uma espécie de *‘comunicídio’, a morte das comunidades. “Muitas destas comunidades estão inseridas dentro de reservas naturais, que é uma questão bastante técnica e tem que ser pensada dentro deste processo de ordenamento territorial”, acrescentou.
*A extinção de comunidades inteiras no Baixo Rio Branco foi batizada de ‘comunicídio’, neologismo criado por parte da equipe de pesquisadores de três instituições de ensino superior que esteve navegando em maio na região. É o caso da comunidade de São Jorge que deixou de existir e de outras vilas dos municípios de Caracaraí e de Rorainópolis (RR). O risco ao comunicídio diz respeito à ameaça as comunidades que não tem condições de sobrevivência humana, cujas necessidades básicas, como: escolas, segurança, postos de saúde, água potável, condições sanitárias adequadas, tem sido os principais fatores à “desocupação e abandono dessas comunidades”, aponta a pesquisadora e professora Madalena Cavalcante, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).
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