Comunidade da Raposa é a terceira terra indígena autorizada à visitação turística no Brasil
Com o plano de visitação aprovado, a comunidade pode desenvolver iniciativas inéditas de turismo em seu território. As atividades serão liberadas após eliminada a ameaça da pandemia do novo coronavírus.
Foto: Thiago Bríglia (Platô Filmes)
A Fundação Nacional do Índio (FUNAI) aprovou, esta semana, o Plano de Visitação Turística na Comunidade Indígena Raposa I, localizada no município de Normandia, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (TIRSS), contendo o relatório técnico, submetido para análise em junho de 2018 ao órgão.
A partir de uma demanda da própria comunidade no atendimento a resolução da 03/2015 da FUNAI, diversos órgãos e instituições de ensino e pesquisa organizaram-se para contribuir com a elaboração do Plano de Visitação Turística, que inclui o plano de negócios e o modelo coletivo de gestão na Raposa.
Antes somente os povos indígenas do estado de Pará, na terra indígena Menkrangnoti (Kaiapó) e; Mato Grosso, na terra indígena Pequizal do Naruvôtu (Kalapao) tinham planos de visitação aprovados pela FUNAI. A Raposa é a terceira terra indígena no Brasil aprovada a exercer a atividade de turismo.
Para Enoque Raposo, indígena nascido na Raposa, formado pela UFRR em secretariado-executivo e especialista em etnoturismo (EUA), os dois anos de espera valeram a pena, considerando que este trabalho vem de longa data, com o interesse da comunidade em experimentar outras possibilidades de desenvolvimento econômico, que respeitem os valores dos povos indígenas e sua cultura.
“Nossa comunidade entende que é possível dialogar com o poder público, respeitando a lei brasileira e também as nossas tradições. Com a aprovação da FUNAI, fica evidente que podemos ser protagonistas de nossa história e gerir nosso território. Ninguém precisa pensar por nós. O que queremos é fazer as parcerias corretas e de pessoas que acreditem em nosso potencial”, disse Raposo, que também foi escolhido em 2019 para ocupar a pasta de chefe da Divisão de Turismo Regional, no Departamento Estadual de Turismo, da Secretaria de Planejamento (SEPLAN/RR).
Foto: RCCaleffi
Histórico - As ações para elaboração do Plano e do relatório técnico iniciaram com a realização do VI Encontro de Turismo de Base Comunitária, realizado em 2017, na Universidade Federal de Roraima (UFRR). Após os debates, o Instituto de Geociências iniciou o projeto de extensão intitulado “Turismo Comunitário na Amazônia”, tendo à frente o saudoso professor Dr. Antonio Veras e sua equipe.
A partir daí foram realizadas duas oficinas de formação de guias de turismo na comunidade da Raposa, nos meses de julho e setembro de 2017, com o apoio de membros do Instituto de Geociências/UFRR, Universidade Estadual de Roraima, Universidade Estadual do Amazonas, Instituto Federal de Roraima, SEBRAE/RR, Cactus Amazônia Consultoria (AM) e Secretaria Municipal de Turismo e Meio Ambiente de Rio Preto da Erva (AM), que atuaram na formação, elaboração de manuais de visitação e ordenamento de trilhas turísticas na comunidade.
As oficinas promoveram formação em primeiros socorros, intercâmbio de conhecimentos, saberes e visão de mundo dos participantes na possibilidade da prática do etnoturismo e ecoturismo com respeito à natureza e aos costumes do povo Macuxi da Raposa.
Durante a formação, outra equipe fez o georreferenciamento da área com a produção de 49 mapas geoespaciais que permitem a compreensão da dinâmica socioespacial, econômica e ambiental. Foram produzidos mapas mentais, fotografias, material audiovisual, pesquisa de satisfação dos participantes, identificação dos potenciais turísticos, contribuindo para a perspectiva etnogeográfica da região da Raposa. Os resultados foram inseridos no relatório técnico aprovado pela FUNAI.
Foto: Éder R. Santos
Segundo informou a Coordenação de Geração de Renda da FUNAI em Roraima (COGER), o plano de visitação da Raposa foi aprovado, entretanto, os trabalhos somente serão liberados quando reabrirem as terras indígenas para visitação, quando não houver mais riscos de contaminação pela pandemia do Covid-19. “A COGER entende que, considerando as observações técnicas apontadas no processo de análise, a proposta do Plano de Visitação está apta a ser implementada a partir do momento em que for decidido revogar a decisão de suspender as emissões de anuência para este tipo de projeto. A COGER elaborará a Minuta de Carta de Anuência a ser submetida à presidência da FUNAI para fins de assinatura” disse em nota.
Mais em:
Texto: Éder R. Santos