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Turismo empresarial sem controle pode eliminar essência da vida ribeirinha no Baixo Rio Branco

Published: Monday, 10 June 2019 16:07 | Last Updated: Wednesday, 21 July 2021 11:23

A questão econômica e comercial do Baixo Rio Branco foi observada pela equipe de pesquisadores de três universidades ligadas do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia (PROCAD) que esteve em atividade de campo durante o mês de maio.

Foto: Éder Rodrigues

Para a equipe, o segmento econômico necessita de organização, sobretudo para os arranjos produtivos locais, considerando o potencial do extrativismo do Baixo Rio Branco. A falta de planejamento e investimentos faz com que os ribeirinhos se submetam ao turismo empresarial de luxo que, atualmente, é a uma das poucas atividades externas que explora a pesca esportiva, no estilo ‘pesca-e-solta’.

Foto: Éder Rodrigues

A equipe percebeu ao longo dos 15 dias de trabalho que a figura dos atravessadores é muito presente no Baixo Rio Branco.      “O açaí, cupuaçu, farinha e castanha servem de base de subsistência e o excedente é vendido. Porém, não existe qualquer controle ou gestão sobre a venda destas mercadorias. É preciso organizar estes arranjos, porque a partir do momento que entra o atravessador, entra a exploração”, pontuou Antonio Veras, coordenador do PROCAD.

Está incluída nesta análise a exploração da pesca do peixe ornamental que abastece o mercado do Amazonas e de outros países. Professor Giovanni Seabra, da UFRR, que é doutor em Geografia Físíca e membro da equipe, explica que o que ocorre no Baixo Rio Branco é uma exploração predatória, sem reposição de estoques. “Sabemos que em pleno período de defeso, os ditos ‘barcos geleiros’ sobem os rios para apreender toneladas de peixes comerciais. Os peixes são pescados com malhas de 100 a 300 metros e estas redes não apreendem somente os peixes comerciais. Apreendem tracajás, tartarugas, jacarés, botos e todos estes animais fluviais que obviamente são sacrificados, se não servirem ao comércio”, lamentou.

A atividade turística sem controle desenvolvida no Baixo Rio Branco (RR) preocupa quem observa o fenômeno, sobretudo, pela forma excludente como é conduzido o processo. O turismo empresarial é uma preocupação também para grupos de pescadores que moram na região.  Se não bastassem outras demandas nas áreas da saúde, educação e segurança, a população ribeirinha ainda precisa enfrentar conflitos provocados pela falta deste controle, do acesso e do manejo da pesca esportiva, ornamental e comercial.

Para o professor Veras é preciso um controle rápido dos gestores a nível federal, estadual e municipal desta atividade. “Percebemos que não há organização. Há empresas que utilizam a mão de obras das comunidades e dizem que dão treinamento, cursos e recursos por meio do fundo de participação do turismo, como compensação por meio de um acordo. No entanto, é preciso pensar algo maior, que inclua a todos. Caso contrário, vai acontecer o que ocorreu em Canoa Quebrada no Ceará: essa população ribeirinha vai perder a sua essência”, disse.

Foi verificado que algumas destas empresas já demonstraram isso em comunidades como Xixuaú, localizada às margens do rio Jauaperi, município de Caracaraí. “Lá tem duas empresas que estão vinculadas a pessoas do exterior: um italiano e outro escocês. Existe uma organização da comunidade, porém, o treinamento não afeta a totalidade dos ribeirinhos. Em outras comunidades, quando há grande fluxo de turistas, as empresas contratam um ribeirinho que conhece o rio e paga-se uma taxa. Mas não há fiscalização”, alertou.

Para o pesquisador, deve haver pressão das lideranças junto aos governos para controlar e mediar estes acordos na direção de um manejo planejado e com sustentabilidade das comunidades. “O que há é uma exploração de mão de obra. Os cursos são pequenos. Não se pensa em toda a comunidade. O turista conhece apenas a pesca esportiva, comercial e ornamental, mas as empresas não têm a preocupação de que esses turistas permaneçam nas comunidades para vivenciar as histórias que existem ou conhecer o extrativismo da castanha, a pesca cabocla, o consumo do açaí, do artesanato, uso de trilhas ecológicas, ou seja, são muitos elementos ou produtos que poderiam ser vinculados às atividades de pesca, nas quais as comunidades ganhariam”, acrescentou.

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