Waimiri-Atroari - UFRR lança programa de capacitação para indígenas
Foi com dança e cânticos de boas-vindas e agradecimentos que, na manhã desta segunda-feira (23/04), os indígenas Waimiri Atroari receberam a comitiva da Universidade Federal de Roraima (UFRR) para o lançamento do Programa de Capacitação; uma parceria entre a Instituição, por meio do Instituto de Antropologia e a Associação Comunidade Waimiri Atroari (ACWA).
O lançamento ocorreu na aldeia Makahpy, aproximadamente 530 quilômetros de Boa Vista (RR). O evento contou com a presença do coordenador e antropólogo, Prof. Carlos Cirino, o reitor da UFRR, Prof. Jefferson Fernandes do Nascimento, o pró-reitor de Assuntos Estudantis e Extensão, prof. Vladimir Souza, o procurador do Ministério Público Estadual, Dr. Edson Damas da Silveira, o juiz de Direito da Justiça Federal, Dr. Helder Girão e um representante da Fundação Nacional do Índio (FUNAI/RR).
A meta é capacitar os professores, agentes ambientais, agentes de saúde, laboratoristas e lideranças Kinja (nome que se autodenominavam), em diversas áreas do conhecimento para atuarem na educação, saúde, vigilância, segurança e direitos indígenas.
Os cursos/módulos serão realizados no Núcleo de Apoio Waimiri Atroari (NAWA) e no Posto Indígena Curiau. A equipe de profissionais da UFRR não terá acesso às aldeias dos Kinja.
O Programa, foi criado a partir de uma demanda apresentada pela Associação Comunidade Indígena Waimiri Atroari (ACWA). No documento encaminhado à Reitoria da UFRR, a Associação indicou o nome do antropólogo, Prof. Carlos Cirino, como coordenador.
A escolha levou em consideração o trabalho que o professor vem desenvolvendo na área desde 2011, quando foi indicado pelo Ministério Público Federal para atuar como perito no processo que demandava a abertura da BR 174.
Sobre o Programa
Ao encaminharem a demanda do Programa para a UFRR, os indígenas solicitaram quatro eixos temáticos (os quais desdobram-se em subtemas), sendo eles: Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, Linguagem e Artes.
O primeiro eixo temático a ser trabalhado a partir do final de maio é na área de Antropologia. "Eles buscam esse conhecimento para entender o mundo dos brancos e assim, por meio dos seus interlocutores, defender aquilo que lhes é de direito. Eles, sabiamente, vão escolher os elementos culturais do outro para incorporarem à cultura Kinja. O que não significa perda e nem que vão manter contato permanente com a cultura do não índio", comentou o coordenador.
O material didático será construído em conjunto com os Kinja num constante processo de interação dos indígenas com os professores da UFRR. Os cursos serão filmados pelos indígenas; podendo vir a ser utilizados para reprodução do conhecimento nas escolas das aldeias.
Não será permitida nenhuma utilização do material ou da experiência tida com os indígenas como material de pesquisa ou publicação pela equipe da UFRR sem a devida autorização dos Kinja.
Os professores sem formação antropológica serão capacitados pela equipe coordenadora do projeto, considerando a necessidade de uma formação em antropologia mínima, assim como conhecimento sobre a cultura Kinja.
Os professores integrantes do Programa não serão remunerados. A UFRR será responsável apenas pela concessão de translado e material didático. A hospedagem e alimentação será responsabilidade do NAWA.
Sobre os Kinja
Os Kinja isolaram-se da sociedade envolvente deste a década de 70 quando foram vítimas de um verdadeiro massacre; consequência de uma política desenvolvimentista para a Amazônia, entre elas a abertura da BR 174, mesmo que colocando em risco a existência do grupo.
Os Kinja foram reduzidos a uma população de menos de 250 índios e hoje lutam para que o Estado Brasileiro reconheça que houve um crime de genocídio.
Atualmente, a população Kinja está estimada em 2.119 índios.
Redes Sociais