Festival das Panelas de Barro Macuxi traz o melhor da cultura indígena
A 4ª edição do Festival das Panelas de Barro Macuxi, realizado na Comunidade Raposa, município de Normandia, no período de 9 a 11 de novembro de 2017, reuniu o que Roraima tem de melhor na cultura regional durante os quatro dias de festejo.
Além das homenagens às artesãs indígenas, que mostraram o talento na produção milenar das panelas de barro comercializadas na Raposa, o público presente assistiu as apresentações de alguns ritos Macuxi, como as danças e cantos do Areruya, Parixara; rituais de pimenta nos olhos e nas pernas; filmes documentários sobre a comunidade Raposa; shows musicais com a banda Paricarana e Neuber Uchôa; literatura, pinturas e arte contemporânea com o artista Macuxi, Jaider Esbell; além da culinária típica expressa nos alimentos como damurida, pajuarú, mocororó e caxiri.
Esta edição teve a participação de caravanas da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Instituto Federal (IFRR), FETEC, IPHAN, FUNAI, dentre outros interessados. O reitor da UFRR, professor Jefferson Fernandes, destaca a importância do Festival na medida em que cria espaços para a valorização da cultura e da arte dos povos indígenas na dimensão da sustentabilidade e na descoberta de novos modelos econômicos na gestão territorial. “O festival demonstra o interesse pela sustentabilidade das comunidades indígenas e todas as atividades levantam a autoestima neste processo de resgate cultural e construção de um caminho para a sustentabilidade das comunidades”, ressaltou o reitor.
O tuxaua Damildes Fidelis Paulino, conhecido como Pará, afirma que ao longo do tempo a globalização tem provocado muitos impactos sobre a cultura dos povos Macuxi. “Muitos jovens perderam o costume de falar a língua materna. Juntamente com a escola temos trabalhado para resgatar nossa cultura. A 4ª edição do festival demonstra a nossa verdadeira cultura, as nossas tradições, costumes e crenças. O mundo precisa nos ver como nós vivemos e como nós somos. Todos estão de parabéns”, homenageou o tuxaua.
Jonatas Raposo, vice-tuxaua da Raposa, analisa que o evento é de grande importância para a comunidade. “Queremos, com o resgate da cultura, que o jovem indígena de hoje reflita no futuro e na economia regional. Vamos trabalhar para incentivar estes jovens”, afirmou.
Joana Nicolau de Souza, artesã Macuxi, explica que o evento tem ajudado a não esquecer a arte de fazer a panela de barro. “As novas gerações com as tecnologias podem esquecer a arte, mas com a nossa exposição nestes eventos estamos valorizando nossa cultura. Usamos a panela para nosso uso doméstico, mas as pessoas têm interesse em comprar, por isso hoje é fonte de renda para as nossas famílias”, disse Souza.
O coordenador geral do evento, Enoque Raposo, explicou que o festival foi um sucesso porque tem contribuído com a cultura Macuxi e a diversidade cultural. “Esta diversidade tem que ser divulgada para o mundo. O festival também tem servido como alternativa econômica para as comunidades, porque permite a geração de renda. Há outras comunidades de outros lugares participando que trazem seus produtos indígenas para comercialização e isso é importante”, comemorou Raposo.
O professor Marcos Braga, do Instituto Insikiran de Ensino Superior da UFRR, afirma que a iniciativa visa a autonomia da comunidade, que busca a sua autossustentação, fortalecendo a cultura. “Com a panela de barro, temos a língua, as pinturas corporais, a gastronomia, as bebidas tradicionais, é um momento de vivências interculturais, com as comunidades indígenas Macuxi e Wapichana, mas também temos as pessoas que vêm dos municípios de Boa Vista e Normandia. Este é um exemplo próprio de vivências e intercâmbios interculturais e, sobretudo, de autonomia comunitária”, assinalou o professor.
Convidados - A antropóloga Larrisa Guimarães, técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), durante a programação fez uma palestra e conversou com o público sobre a possibilidade de registro da arte de fazer a panela de barro Macuxi, para alcançar a condição de patrimônio imaterial brasileiro, considerando o interesse da comunidade Raposa neste processo. “A ideia é reforçar este trabalho preliminar que já foi feito junto ao IPHAN e reforçá-lo para que possamos conseguir cumprir com o protocolo institucional para dar entrada a este registro. Por enquanto estamos no plano das idéias, percebemos que existe a potencialidade, mas precisamos seguir o rito institucional para que o processo de registro tenha início”, orientou.
Jaider Esbell, artista plástico da etnia Macuxi, esteve presente com seu trabalho na área da literatura e nas artes visuais. Ele diz que o festival vem se consolidando na medida em que o evento cumpre sua missão de trazer os reflexos tradicionais da culura na contemporaneidade. “O evento traz aspectos da nossa cultura que remetem diretamente à espiritualidade na prática, que é o fazer a panela ou, por exemplo, o ritual das tranças. Trazer a vovó Bernaldina, que é uma mestre do Maturuca [município de Uiramutã] é ligar duas regiões políticas e geográficas, aparentemente bem distintas politicamente, porém bem posicionadas. Trazer estas diferenças e essas potências para conversar e se fortalecer é proporcionar uma costura fundamental. O evento é um somatório de esforços. Com o apoio de todos, especialmente, das mídias abertas temos conseguido levar adiante este trabalho que vem sendo feito há muitos séculos, mas com invisibilidade. Agora com as mídias conseguimos projetar de uma forma aberta, dinâmica e fluída”, comemorou Esbell.
Flávia Ávila, coordenação do grupo Paricarana, vinculado à Pró-reitoria de Assuntos Estudantis e Extensão (PRAE), afirma que a presença da banda representa uma contribuição ao evento na medida em que é possível a troca de linguagens artísticas e culturais. “Já estivemos presentes aqui com a banda Cruviana que resgata o material histórico indígena e mistura ou transculturaliza os ritmos já conhecidos, globalizados. Agora a banda Paricarana traz o que já o conhecido da música popular brasileira e regional para conhecimento, divulgando e dividindo com o público. E o mais importante: trazemos para dentro da comunidade futuros profissionais, de áreas como a Saúde, Geografia, Música [todas da UFRR], dentre outras, de maneira que eles se conscientizam de que há uma comunidade que necessita de auxílio dentro do estado de Roraima”, considerou Ávila.
Neuber Uchôa, compositor e cantor regional, explica que tem uma parceria com a comunidade Raposa. “Como artista de Roraima, estar aqui é viver de perto o que eu canto. Essas participações que fazemos desde que comecei a me envolver com o regionalismo e fiz da cultura indígena o objeto da minha arte há mais de três décadas se repete e sempre de uma maneira apaixonante. Estar aqui convivendo e interagindo com comunidade, com todos que fazem a festa é impagável e imensurável”, elogiou Uchôa.
Professores e alunos do curso de Artes Visuais da UFRR também participaram ativamente do Festival
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