“Mestrado Profissional pode incentivar a criação do comitê de Bacias”, diz pesquisadora
Em entrevista a Coordenadoria de Comunicação da UFRR, a pesquisadora Elizete Holanda falou sobre a aprovação do projeto de mestrado profissional em rede nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos (ProfÁgua). O edital de seleção do projeto recebeu nota 4 na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Elizete Celestino Holanda é doutora em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS/2011) mesma instituição em que obteve mestrado em Geociências (2007). A pesquisadora possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Rondônia (2004). Atualmente é professora adjunta do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Roraima, atua principalmente nos seguintes temas: Paleontologia da Amazônia e Ensino em Geociências.
Coordcom – Qual a importância da implementação do programa em rede em Roraima, considerando as oportunidades que a UFRR tem por estar localizada na região Amazônica?
Elizete Holanda - A partir deste edital de adesão, somos parte das três universidades na Amazônia, que inclui Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e Universidade Federal de Roraima (UFRR) inseridas na rede nacional do mestrado profissional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos. Isto já é de grande importância no âmbito nacional, por estarmos representando o extremo norte do Brasil e da Amazônia neste tema tão imprescindível para a humanidade. Roraima apresenta um quadro de profissionais e de projetos desenvolvidos na área de recursos hídricos ainda deficitário e que não contempla a real necessidade do estado, especialmente no que confere à gestão. Este quadro apresenta-se, mesmo encontrando-se em uma localização geográfica estratégica para estudos nesta área, seja por estar em uma região de fronteira com países em conflitos políticos, sociais e ambientais, seja por estar em uma crescente demanda relacionada a agricultura irrigada, ao desmatamento irregular, as atividades de mineração, a impactos socioeconômicos relacionados a períodos hídricos extremos (cheias e estiagens) e, em especial, a demanda energética. A inexistência de comitês de bacias atuando nos sistemas fluviais do estado também contribuem para esta lacuna de conhecimento. Com a adesão do UFRR ao ProfÁgua pretende-se proporcionar formação ampla aos alunos e profissionais da área, de modo a aumentar a eficácia de sua atuação em pesquisa e gestão integrada dos recursos hídricos.
Coordcom – Como surgiu a ideia de participar deste processo, já que representa uma conquista importante, sobretudo neste cenário de crise econômica e política, no qual as universidades vêm sofrendo com os cortes sistemáticos do governo federal que atingem diretamente à pesquisa, ciência e tecnologia?
Elizete Holanda - A rede nacional do ProfÁgua foi implementada no início de 2016 como uma iniciativa das universidades que fazem parte da rede inicial e em parceria com a Agência Nacional de Águas ( ANA). Desde então o Instituto de Geociências da UFRR (IGEO) vem promovendo contatos e parcerias com outras instituições, dentro e fora do estado, como por exemplo a Universidade Estadual do Amazonas (UEA) e a Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Roraima (FEMARH), com o intuito de fortalecer sua proposta de adesão ao programa. Para tanto, foi realizado em novembro de 2016, o "I Seminário de Gestão de Bacias Hidrográficas: A realidade da Amazônia Legal", organizado pelo IGEO em conjunto com a FEMARH e o Ministério Público do Estado (MPE/RR), como uma tentativa de discutir os temas de relevância para o estado e consolidar parcerias institucionais e de órgãos gestores de recursos hídricos. O instituto buscou colaboração com outros programas de pós-graduação da UFRR, como o Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGGEO) e o Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais (PRONAT), assim como do Núcleo de Pesquisa em Engenharia (NUPENG), o projeto Hydros e o Núcleo de Pesquisas Energéticas (NUPENERG), que aceitaram colaborar com a proposta e dos quais provém alguns dos professores que fazem parte do corpo docente do ProfÁgua/UFRR.
Coordcom – Quais serão as linhas de pesquisa do programa?
Elizete Holanda - O ProfÁgua tem duas áreas de concentração: "Instrumentos de Política de Recursos Hídricos" e "Regulação e Governança de Recursos Hídricos", com duas linhas de pesquisa cada, respectivamente: "Ferramentas Aplicadas aos Instrumentos de Gestão de Recursos Hídricos", "Metodologias para Implementação dos Instrumentos de Gestão de Recursos Hídricos", "Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos e Segurança Hídrica e Usos Múltiplos da Água".
Coordcom – Que temas, você imagina, que podem ser estimulados nas futuras pesquisas?
Elizete Holanda - Nós pretendemos fortalecer os estudos na área de gestão das bacias hidrográficas do Estado, servindo de subsídio para a criação do Comitê de Bacias e temas relacionados ao uso da água nas áreas urbanas.
Coordcom – Como você avalia os estudos que vêm sendo feitos até agora sobre recursos hídricos no Brasil e na Amazônia em particular?
Elizete Holanda - A maior parte dos estudos que se conhecem no Brasil, e até mesmo na Amazônia, tratam da caracterização e análise fisiográfica, ambiental e socioeconômica dos recursos hídricos. Agora, no que se diz respeito a gestão e regulação, ou seja, como fazer o planejamento e o desenvolvimento do uso desse recurso de forma sustentável e otimizada, ainda estamos caminhando na construção dos estudos e das pesquisas. É difícil de se comparar as realidades. Há retratos diferentes para cada região do país, e em especial a região Amazônica, ainda carece dos estudos básicos de caracterização, mas pode avançar no que diz respeito a gestão e regulação. Este programa em rede nacional é uma oportunidade para que os profissionais que trabalham diretamente com recursos hídricos ou que pretendam trabalhar, possam ter uma formação diferenciada, específica e integrada com as demais regiões no Brasil.
Coordcom – O que você destacaria de diferencial no projeto enviado pela UFRR?
Elizete Holanda - Uma das razões que favoreceram a nossa proposta é a localização estratégica da UFRR, abrangendo a Amazônia Setentrional e uma área onde pouco se desenvolvem pesquisas na área de gestão e regulação de recursos hídricos. Outro ponto a nosso favor é que, a partir da instalação do mestrado profissional e de grupos de pesquisa na área, tenhamos subsídio e incentivo para a implementação de comitês de bacias no estado, ainda carente deste tipo de iniciativa.
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