Pesquisas da UFRR apontam contaminação da água em comunidades Yanomami
Pesquisas realizadas por alunos do Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais da Universidade Federal de Roraima (Pronat/UFRR) apontam a contaminação da água usada para consumo humano em oito comunidades da Terra Indígena Yanomami. O fato pode ser um dos causadores dos casos de verminoses e parasitoses entre a população da região.
As coletas foram realizadas em 2004 e em 2015 como parte das pesquisas de mestrado e doutorado que visam o manejo e conservação de bacias hidrográficas e bioprospecção. Apesar do intervalo de 10 anos entre as coletas, os resultados são muito semelhantes quando se verifica a contaminação das águas e seu impacto nas comunidades.
As amostras foram retiradas onde os indígenas fazem coleta de água para sua sobrevivência. De acordo com o professor doutor Marcos José Salgado Vital, coordenador do Pronat, o cruzamento dos dados obtidos nas pesquisas com dados epidemiológicos do povo Yanomami sugere a relação da água consumida com os casos de verminoses, parasitoses, diarreias, gastroenterites de origem infecciosa e helmintíases que acometem as comunidades em que se coletou a água.
AS PESQUISAS - Em 2004, a pesquisadora Arlene Oliveira Souza, sob orientação do professor Marcos Vital, analisou amostras de água nos pontos de coleta das comunidades Balawaú, Demini e Toototobi, localizadas no município de Barcelos (AM), e na região de Paapiu, situada no município de Iracema, a oeste de Roraima. Os resultados das análises microbiológicas indicaram que a água consumida naquelas regiões não atendia aos padrões de potabilidade estabelecidos pela Portaria MS nº 518/04.
Em 2015, a pesquisadora Jacy Angélica de Moraes Lima, orientada pelos professores Marcos Vital e Barbara Bethonico, coletou duas amostras do rio Auaris. A primeira onde a água é bombeada para um reservatório, e posteriormente, distribuída no posto de saúde. A outra no “porto” da comunidade Auaris, local onde a comunidade costuma coletar água para consumo.
A terceira amostra foi retirada do igarapé Ye’kuana, local onde a comunidade Ye’kuana coleta água para consumo. A quarta amostra foi coletada no bebedouro do Pelotão Especial de Fronteira de Auaris, proveniente de um poço tubular profundo que distribui água para todo o pelotão e é também um local comum de consumo das comunidades, visto que o bebedouro fornece água gelada.
Os resultados das análises microbiológicas indicaram que a água consumida nos polos-base Auaris, Waikas, Palimiú e Uraricoera também não atendem aos padrões de potabilidade preconizados na Portaria MS nº 2.914/2011, que dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.
APLICAÇÃO – Conforme o professor Marcos Vital, os dados são publicados em revistas, capítulos de livros, congressos nacionais e internacionais e enviados para órgãos como Funai, os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) e ONGs como o ISA (Instituto Socioambiental).
Vital aponta que os dados indicam possibilidades da poluição não estar ligada exclusivamente ao garimpo. “Não é só o garimpo que vem contaminando as águas. É a forma como os indígenas estão utilizando os recursos hídricos”, afirma.
“A universidade faz o trabalho, divulga, encaminha e espera que as autoridades e os órgãos não-governamentais, mas que também recebem recursos públicos para fazer pesquisas, ajam”, finaliza o professor.
O trabalho realizado em 2004 pode ser conferido clicando AQUI. A pesquisa de 2015 está na fase final de revisão pós-defesa e deve ser publicada em breve no arquivo de dissertações do Pronat . No site também podem ser consultadas todas as pesquisas resultantes do Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais.
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