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Liderança Yanomami ministra aula magna na UFRR

Published: Tuesday, 17 May 2016 16:54 | Last Updated: Wednesday, 21 July 2021 11:17

“O homem da floresta tem o direito de defender o pulmão do mundo (...) Obrigada por deixar que um filho da Amazônia entre em uma universidade e mostre sua luta”. Davi Kopenawa Yanomami.

 

 

A Universidade Federal de Roraima (UFRR) realizou nesta segunda-feira (16), uma das suas ações mais importantes na busca pela valorização dos saberes dos povos indígenas da América.  A aula magna, rito tradicional que abre o semestre letivo em todas as universidades, foi ministrada pelo autor e líder indígena mundialmente conhecido, Davi Kopenawa Yanomami, no Centro Amazônico de Fronteira (CAF) e teve mais de 1200 pessoas presentes.

Kopenawa é xamã, vocação que tem desde a infância, resultado de um saber cosmológico. O conhecimento e ontologia do ameríndio no discurso Davi Kopenawa traz a diferença e a inovação para a aula magna.

O tema da aula foi “Os xapiri e a ciência da floresta”. Os xapiri são seres especiais na cosmologia Yanomami, espíritos que se comunicam com os habitantes da floresta, que orientam a vida social e a relação com a natureza. Kopenawa recentemente publicou em três línguas o livro "A Queda do Céu", sobre xamanismo, política cosmológica e interétnica, de conteúdo filosófico (neste caso, uma filosofia reversa) e fortemente interdisciplinar.
Foi sobre o conteúdo desta importante obra, prefaciada pelo renomado antropólogo Eduardo Viveirosde Castro (UFRJ), que Kopenawa falou ao público, rompendo uma tradição centenária nas instituições de ensino superior, que naturalmente valorizam, nestes momentos, a visão clássica ocidental hegemônica da ciência "oficializada". Durante a aula, Levi, um xamã Yanomami realizou um ritual indígena de chamamento do xapiri.

 

Para o reitor da instituição, professor doutor Jeferson Fernandes do Nascimento o evento marcou a história que UFRR vem construindo no âmbito indígena. “É um evento histórico, por toda trajetória do Davi, o lançamento desse livro, traz para a academia uma visão diferenciada do ponto de vista da literatura antropológica. Essa questão do saber indígena, vai enriquecer a discussão sobre o conhecimento, essa característica do Davi que é colocar no papel em várias línguas os saberes da população yanomami. Isso para nós é muito importante e marca a história da UFRR, pois a instituição tem em sua essência a obrigação de representar essas populações, principalmente aqui em Roraima”, afirmou o reitor.

No decorrer da aula magna, Davi destacou a importância do xapiri para o mundo, lembrando que a cultura dos povos indígenas deve ser respeitada, assim como seu conhecimento. O líder também contou parte de sua história e agradeceu a UFRR pela parceria. “ Eu me sinto muito contente, porque nunca esperava que a Universidade fosse abrir as portas para eu entrar e conhecer vocês e vocês me conhecerem. Vejo nisso, uma grande amizade, de ser amigo, família da universidade. O preconceito é muito grande, mas aqui eu vi que tem amigos. É importante deixar claro para os alunos e professores, que os índios não morreram, não acabaram. Todos têm que acreditar que as veias indígenas do Brasil ainda existem, que nós temos índios brasileiros para lutar e defender nossos direitos”, afirmou o líder indígena.

 

Academia

Os alunos que assistiram a aula, acreditam que ela contribuirá com sua formação. Marcos Silva é indígena e acadêmico do curso de Gestão Territorial Indígena. “É uma quebra de paradigma, uma aula com um dos nossos líderes indígenas. Aqui não é muito conhecido, mas para fora ele é. Trazendo para a Universidade, acredito que enriquece muito nosso conhecimento, disse o acadêmico”

Vanderson Cadete também é indígena e aluno do curso de Direito e sentiu orgulho de ter uma representação como Davi. “Achei bem interessante e bem importante a iniciativa da UFRR, para divulgar a nossa cultura, o nosso conhecimento, trazendo de dentro da comunidade para todos, a nossa realidade. Me sinto feliz, honrado, privilegiado e respeitado, por ser representando por um grande líder como Davi”, afirmou.

Melissa Gomes não é indígena, mas gostou de conhecer mais sobre a cultura yanomami. “Para mim é interessante que se quebre essa barreira, de que o índio não sabe de nada, que não tem conhecimento. Eles sabem sim, tem cultura, tem sabedoria, e eu gostei muito de ver tudo isso”, concluiu a acadêmica de Jornalismo.

 


Organização

Pablo de Castro Albernaz é professor do curso de Antropologia na UFRR e foi um dos organizadores do evento afirma que ideia dos organizadores é promover a reflexão que permita a complementaridade de saberes, trazendo ao público um conjunto de valores e saberes Yanomami que tem encontrado espaços em várias partes do mundo.

“Um dos limites e dos pontos cegos do nosso estudo como cientistas, professores, é a questão da natureza, a relação do homem com a natureza. Hoje cada vez mais esse conhecimento está ressurgindo com os indígenas, a ciência está se voltando para eles como um modo de tentar reaprender coisas que nós esquecemos. O trabalho de Davi é isso, trazer uma outra perspectiva de ciência de relação do homem com o mundo. Estou muito feliz do resultado da aula”, disse.

Rosilene Abreu, acadêmica do curso de Antropologia que ajudou a organizar o evento, também se sentiu feliz com o resultado. “Foi um desafio organizar tudo, mas é a primeira vez que temos um autor indígena com repercussão internacional do próprio nome, isso é uma inovação para a universidade como um todo. Como estudante, para mim é enriquecedor” afirmou.

Participação de organizações indígenas

Além da comunidade acadêmica, participaram do evento, todas as organizações indígenas de Roraima. Telmo Ribeiro Paulino é professor do Istituto Insikiran de Formação Superior Indígena e faz parte da Organização dos Professores Indígena de Roraima (OPIRR) e do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e aprovou a iniciativa.

“Me fez fazer uma reflexão, porque essa é a primeira vez  na história que se traz um líder, para falar dos conhecimentos tradicionais da floresta, que a sociedade roraimense e brasileira não tem conhecimento. É muito interessante para a nossa história”, declarou.

 Exibição

A aula magna teve transmissão on line para mais de 30 universidades conveniadas e convidadas pela UFRR, inclusive de outros países, assim como para o público em geral. Ela pode ser acessada no endereço:http://video.rnp.br/portal/channel.action?idItem=20985

 

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