UFRR 25 anos: juiz Helder Girão Barreto conta parte da história da instituição em Aula Magistral
Parte da história dos primórdios da Universidade Federal de Roraima (UFRR) foi contada na noite desta quinta-feira (10) pelo juiz federal Helder Girão Barreto, ministrante da Aula Magistral que integra a programação dos 25 anos da instituição. O magistrado falou no auditório Alexandre Borges para uma plateia formada por alunos, professores, técnicos e membros da comunidade externa.
A aula durou 90 minutos. O juiz, que trabalhou na UFRR entre os anos de 1990 e 2004 como vice-reitor e professor do curso de Direito, emocionou-se em vários momentos ao relembrar as dificuldades encontradas nos primeiros anos de implantação.
“Antes da Universidade Federal, os roraimenses e os ‘roraimados’ que quisessem um curso superior deveriam mudar-se, em regra, para Belém (PA). Isso implicava na formação e na perpetuação de uma elite intelectual e de uma injustiça social”, contou o juiz. Para ele, a maior conquista da UFRR foi quebrar o status quo da época, rompendo as estruturas de dominação existentes naquele tempo.
A universidade, lembrou o magistrado, foi implantada em 1989, quatro anos após ter sido autorizada pela Lei nº 7.364/85. O começou foi difícil, pois não possuía orçamento, instalações ou equipamentos. “À época, a universidade era itinerante e cabia dentro da pasta do reitor pró-tempore, o professor doutor Hamilton Gondim”, citou. “Não tínhamos professores, nem alunos”.
Da garagem da antiga sede da Delegacia do Ministério da Educação, a primeira sede da instituição, a UFRR mudou-se para o atual bloco I do que hoje é o campus Paricarana, à época uma área sem iluminação ou asfaltamento. “O acesso era uma aventura, da qual ninguém escapava limpo no inverno”.
O bloco foi cedido pelo governo estadual da época, que pretendia instalar suas repartições nos prédios vizinhos. Tempos depois, numa ação combinada entre servidores e alunos, o atual bloco III, foi ocupado e apelidado de Kuwait, uma referência à invasão daquele país pelo Iraque. Quando estava quase sendo executada a operação “Irã” para entrar em outro bloco, o governo fez a cessão do mesmo, relembrou.
Girão Barreto também contou histórias sobre as condições de trabalho naqueles tempos. Os professores do antigo Território Federal de Roraima exigiam serem admitidos por merecimento nos quadros, mesmo sem a titulação mínima, e muitas pessoas que faziam os concursos para os cargos de docente não conseguiam ser aprovadas, o que atrasava os trabalhos acadêmicos.
Outra lembrança foi o atraso de seis meses para os servidores receberem seus vencimentos. “Os que tinham outros empregos, permaneceram. Os que não tinham ou haviam largado, 'passaram baixo', alimentando-se e morando de favor, muitos deles no alojamento do ginásio Canarinho”.
Os trabalhos de interiorização também foram citados, com histórias sobre os campi avançados que a UFRR tinha nos municípios de Caracaraí, São João da Baliza e São Luiz do Anauá e os problemas que os professores enfrentavam quando os veículos quebravam no meio da estrada.
Os programas ‘Alfabetização Solidária’, que montou equipes de alfabetizadores para atuar no Estado, e ‘Brigadas Cubanas’, responsável pela ida de alunos e professores para estudar e trabalhar em Cuba e pela vinda de docentes doutores para ministrar aulas na UFRR também foram citadas como exemplos das ações dos primeiros anos da instituição. “Os médicos cubanos foram o embrião do curso de Medicina”, destacou.
“Por volta de 1991, 1992, graças ao esforço de deputados e senadores de Roraima, a universidade foi agraciada com recursos suficientes para construir todo o campus Paricarana. Era coisa de primeiro mundo, com vários blocos, ginásio, piscinas olímpicas, campos de futebol, bibliotecas e laboratórios”. Pelo grande volume, a concorrência teria porte internacional, mas a pressão contrária de um deputado federal, interessado em direcionar os resultados das licitações para que fossem vencidas por empresas locais, fez com que as verbas não fossem liberadas pela União.
“Nas adversidades é possível realizar-se”, afirmou o ex-professor, fazendo um balanço positivo do resultado dos esforços que a equipe da UFRR desenvolve até hoje. “Acredito que a Universidade Federal de Roraima vai se consolidar cada vez mais, pois não foi feita sobre areia e sim sobre bases sólidas”.
Ao final de sua palestra, Girão Barreto recebeu da reitora Gioconda Martínez e do vice-reitor Reginaldo Gomes uma placa de homenagem pelos trabalhos realizados em prol da educação superior em Roraima.
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